sábado, 29 de setembro de 2012

Blogueiro Mercante de olho na Mídia: "Navios dos EUA furam embargo a Cuba, e americanos acusam a URSS", há 50 anos na Folha

Interessantíssimo para quem gosta de navios e de história. Deu hoje na Folha de S. Paulo.




HÁ 50 ANOS
29.set.1962

Veja o arquivo digital da Folha emwww.acervo.folha.com.br

Navios dos EUA furam embargo a Cuba, e americanos acusam URSS

DO BANCO DE DADOS - O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Lincoln White, acusou ontem a URSS de usar os navios norte-americanos para abastecer Cuba, que está sob embargo econômico desde fevereiro deste ano.
De acordo com White, a URSS estaria usando entre cinco e seis navios mercantes para fazer o comércio com a ilha. Os norte-americanos emprestaram os equipamentos aos soviéticos durante a Segunda Guerra Mundial através de programa de empréstimos e arrendamentos.
Desde 1951 os EUA reclamam o retorno dos 121 navios da URSS, que até o momento teria devolvido apenas nove.

Blogueiro Mercante de olho na Mídia: livro narra epopeia do navegador Vasco da Gama

Publicado hoje na Folha de S. Paulo.

Britânico narra epopeia de Vasco da Gama
Ótimo relato sobre influência de navegador português no choque entre islã e ocidente é turvado por erros de tradução
Trabalho do historiador e jornalista Nigel Cliff avalia como o período das grandes navegações transformou o mundo






RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

O livro é ótimo. Mas a tradução é péssima e estraga o prazer de ler uma obra em português sobre o português provavelmente mais famoso de todos os tempos, o navegador e guerreiro Vasco da Gama (1460-1524).

O jornalista e historiador inglês Nigel Cliff escolheu um tema pouco conhecido no mundo anglo-saxão: "como as viagens de Vasco da Gama transformaram o mundo", conforme o subtítulo do livro.

A epopeia de Cristóvão Colombo (1451-1506) descobrindo as Américas é algo bem mais conhecido entre britânicos e americanos. E bem menos emocionante.

Mas é triste notar que há erros crassos de tradução no livro. Mesmo sem acesso ao original, foi possível detectar cerca de 50 erros na versão para o português.
O mais inacreditável deles é traduzir errado a cidade da Índia em que Vasco da Gama aportou em 1498.

Ele desembarcou no oeste da Índia, em Calicute; a tradução fala de Calcutá, cidade no leste do país. É equivalente a dizer que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil em Porto Alegre (RS), não na região de Porto Seguro (BA).

CHOQUE
Em Portugal quase nada do que está no livro seria considerado novidade para um público acostumado a ler sobre isso desde criança, pois a história das grandes navegações é uma obsessão nacional.

Já para os mais incultos brasileiros, para quem Vasco da Gama é apenas nome de time de futebol, o livro vai abrir muitos olhos.

O assunto é particularmente pertinente porque trata do muito debatido "choque de civilizações" entre os mundos cristão e muçulmano.

"Eu certamente não sugiro que houve um estado permanente de conflito entre o islã e o cristianismo nos séculos antes da viagem de Vasco da Gama. Descrevo muitos lugares onde a civilização foi elevada por um espírito de cooperação entre as religiões", escreveu Cliff em entrevista à Folha por e-mail.

"O que eu sugiro é que as viagens dos portugueses eram, em muitos aspectos, o produto de quatro séculos de tentativas por parte da Europa ocidental para empurrar de volta o mundo islâmico invasor", continua o autor.

Cliff considera a incursão portuguesa na Ásia como a última das cruzadas. Havia interesse pelo comércio de especiarias, dominado pelos muçulmanos e seus intermediários italianos.

Mas um motivo importante para os portugueses se lançarem ao mar era flanquear o mundo islâmico, tentar achar aliados cristãos e atacar o inimigo por outra direção, com sorte "liberando" Jerusalém dos "infiéis".

Por ter sido o primeiro europeu a chegar à Índia pela rota marítima contornando a África, e por ter feito duas viagens posteriores, Da Gama é um símbolo perfeito da nova era do "imperialismo" europeu na Ásia.

Eram apenas quatro pequenas naus -só duas retornariam a Portugal- com cerca de 170 homens na tripulação. Fizeram a maior viagem oceânica da história até então. Mudaram o mundo.

"No final, a certeza religiosa que levou Vasco da Gama e seus colegas de desbravamento a viajar por meio mundo foi também a sua ruína", diz o escritor.
"Apesar de todas as suas realizações surpreendentes, a ideia de uma última cruzada -uma guerra santa para terminar com todas as guerras santas- foi, desde sempre, um sonho louco", conclui Cliff no último parágrafo do livro.

Leia a íntegra da entrevista em
folha.com/no1160700
GUERRA SANTA
AUTOR Nigel Cliff
EDITORA Globo Livros
TRADUÇÃO Renato Rezende
QUANTO R$ 54,90 (544 págs.)

Tradução brasileira do livro traz ao menos 50 incorreções
DE SÃO PAULO


São incríveis os erros de tradução neste livro. O título já estava nas livrarias quando a editora decidiu acrescentar uma nota.

"No livro Guerra Santa, por erro de tradução, onde se lê Calcutá, leia-se Calicute; onde se lê Ctésifo, leia-se Ctesifonte; onde se lê duque George, leia-se duque Jorge. E, nas páginas 346 e 347, onde se lê Kilwa, leia-se Quilon."

Esses erros crassos, na tradução assinada por Renato Rezende e editada pela Globo Livros, são apenas a pontinha do iceberg. Erraram um dos detalhes mais importantes da história -o lugar onde a flotilha de Vasco da Gama chegou em sua histórica viagem. Mas tem muito mais.

"Grandes poderes" (pág. 129); "dois superpoderes" (pág. 28); "o poder" (pág. 289". Seria o Super-Homem, o Batman? Não, é apenas uma tradução errada de "powers" por "poderes" em vez de "potências".

Como a "rota fluvial" entre os oceanos Índico e Pacífico (pág. 377). Ou as "ilhas lesser Sunda" (pág. 378), que são as ilhas Sunda menores, ou pequenas. Ou as "ilhas Spice" (pág.155), na verdade as ilhas das especiarias.

Uns erros são tão óbvios que são previsíveis. A "ponte de comando" (pág. 18), "bridge", não se traduz assim, se traduz como "passadiço".

"Conhecendo as cordas"? Título de capítulo traduzido literalmente. A expressão em inglês, "learning the ropes", significa "aprender algo".

"Arrastou suas cargas de especiarias" (pág. 297)? Péssima tradução de "arrested": apreendeu, confiscou!

Mas o melhor são os "buracos de minhocas" nos cascos dos navios (pág. 357).
O que fazem minhocas terrestres ("earthworms") no mar? Na verdade são outros "vermes" ("worms"), que nem são vermes, são moluscos: os teredos.

Daria para continuar, são pelo menos cerca de 50 erros bobos, mas é melhor parar por aqui. (RBN)