domingo, 10 de março de 2013

Blogueiro Mercante indica livro sobre as horas finais do Titanic

Para quem gosta de ler sobre o TITANIC eis uma dica interessante que vale a pena conferir.


Leiam a matéria publicada pela Folha de S. Paulo à época do relançamento do livro no Brasil.

Relato histórico do acidente do Titanic é lançado no Brasil

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IVAN FINOTTI
DE SÃO PAULO


A Amazon brasileira, que estreou anteontem, traz 500 títulos sobre o Titanic. A norte-americana, 3.000 opções. Há desde obras que comparam os menus dos cafés da manhã servidos na primeira e na terceira classes a textos emocionados como "Vovó Sobreviveu ao Titanic".

Há sociedades dedicadas ao navio com eventos anuais (titanichistoricalsociety.org), há sites com histórias de cada sobrevivente (como o titanicpassengers.com) e há até uma enciclopédia on-line sobre o naufrágio (encyclopedia-titanica.org).

Mas há um aspecto do livro escrito em 1955 pelo historiador norte-americano Walter Lord que jamais poderá ser superado: ele entrevistou 63 sobreviventes -o último deles, um bebê de nove semanas no naufrágio, morreu em 2009 aos 97 anos.
Reuters
Botes do navia Carpathia durante resgate de sobreviventes do Titanic
Botes do navia Carpathia durante resgate de sobreviventes do Titanic

O livro ganha agora -no ano do centenário do acidente que matou estimados 1.523 (e do qual sobreviveram 703)- sua primeira edição brasileira.

"Uma Noite Fatídica", tradução de Tomás Rosa Bueno para "A Night to Remember" (uma noite para ser lembrada), é um relato jornalístico sobre a noite de 14 de abril de 1912, um domingo.

Curto, objetivo, direto ao ponto, a obra apresenta o "iceberg logo à frente" já na segunda página.

Na terceira, ocorre o acidente: "Então, de repente, sentiu um movimento estranho romper o ritmo constante dos motores. Um veleiro com as velas içadas parecia estar passando a estibordo [lado direito]. Então, percebeu que era um iceberg, elevando-se, talvez, a trinta metros da superfície [um prédio de dez andares]."
Divulgação
Foto do iceberg responsável por afundar o Titanic
Foto do iceberg responsável por afundar o Titanic

BEST-SELLER
Assim, após o "vago ruído de trituração que pareceu vir das entranhas do navio" por volta das 23h40, Lord leva o leitor aos acontecimentos que desembocariam no naufrágio duas horas e meia depois, "sem campainhas nem sirenes. Nenhum alarme geral".
"Uma Noite Fatídica" foi um sucesso mundial assim que foi lançado, há quase 60 anos.
"Até o livro de Lord, o que a maioria das pessoas tinha lido sobre o Titanic vinha das notícias iniciais e, mais tarde, com a passagem dos anos, de artigos e entrevistas publicadas nos aniversários dos naufrágios", escreve o jornalista norte-americano Daniel Mendelsohn no prefácio à edição brasileira.
Havia também as reminiscências dos sobreviventes, principalmente de tripulantes, que lançavam suas memórias em forma de livros.
Mas, como nota Mendelsohn, "Lord foi o primeiro escritor a juntar tudo com um ponto de vista mais distanciado".
O prestígio de Lord durou até o fim de sua vida, em 2002. Por 50 anos, ele foi chamado para participar de praticamente qualquer projeto que envolvesse o nome
Titanic, incluindo a função de consultor do filme de 1997 do diretor James Cameron.
Um dos raros comentários feitos por Lord em "Uma Noite Fatídica" diz respeito ao destino dos passageiros de terceira classe (leia trecho nesta página).

ESTRELAS
Na metade do livro, quando o Titanic afunda, o historiador se põe a analisar as razões que levaram alguns a serem barrados nos botes salva-vidas e, mais do que isso, a anuência da sociedade da época e dos próprios passageiros mais pobres.
Foi um salve-se quem puder, com a tentativa de respeito a algumas normas. Os oficiais encarregados dos botes não deixavam homens subir, com exceções.
Mas quando a maioria das mulheres e crianças conseguiu seu lugar, não houve dúvidas de que a primeira classe tinha prerrogativa.
Conforme demonstra a demografia da tragédia (quadro à direita), salvaram-se mais homens da primeira classe (32%) do que crianças da terceira (31%), proporcionalmente falando.
A única das sete crianças da primeira classe que morreu foi uma menina de dois anos que se perdeu dos pais na corrida aos botes. Já entre as 80 da terceira classe, morreram 55.
O navio considerado inafundável tinha botes para apenas metade dos passageiros e tripulantes. E, apesar de o navio Carpathia ter partido em socorro imediatamente e ter chegado ao local do naufrágio com o nascer do sol, o frio do mar (a água estava abaixo de zero) diminuiu as chances de sobrevivência.
Outro ponto abordado por Lord é a celebridade dos mortos e o escândalo causado por isso.
Charles Chaplin só lançaria seu primeiro curta-metragem em fevereiro de 1914. Em 1912, não havia a indústria do cinema como hoje, assim como não existia televisão ou superastros da música.
Daí o fato de a "high society" ser a matéria prima para as publicações de fofoca do início do século.
Estavam no navio figuras como o dono da editora Harper, o dono da companhia de transatlânticos do Titanic e o fundador da cadeia loja Macy's -uma classe que viajava para Paris com dezesseis baús de bagagem por casal.
A morte desse grupo foi um escândalo semelhante, talvez, à morte de Tom Cruise, Clint Eastwood, Xuxa, Bob Dylan e Justin Bieber de uma tacada só, no primeiro voo turístico tripulado à Lua.
*
Leia trecho de "Uma Noite Fatídica", de Walter Lord:
A noite foi uma confirmação magnífica da norma "mulheres e crianças primeiro", mas de alguma forma a proporção de vidas perdidas foi maior entre as crianças da terceira classe do que entre os homens da primeira. Esse contraste nunca passaria despercebido pela consciência social (ou pelo faro para notícia) da imprensa de hoje [1955].
O Congresso tampouco se importou com o que aconteceu com a terceira classe. A investigação do senador Smith sobre o Titanic abrangeu tudo sobre o sol, até mesmo do que era feito um iceberg ("gelo", explicou o quinto oficial Lowe), mas a terceira classe recebeu pouca atenção. Apenas três das testemunhas eram passageiros da terceira classe. Duas delas disseram que haviam sido impedidas de ir para o convés principal, porém os legisladores, não deram seguimento ao caso. Também aqui, o testemunho não sugere nenhum acobertamento deliberado -simplesmente não havia interesse.
Nem mesmo os passageiros de terceira classe ficaram incomodados. Eles viam a distinção de classes como parte do jogo. Olaus Abelseth, pelo menos, considerava o acesso ao convés principal um privilégio incluído na passagem da primeira e da segunda classes... mesmo quando o navio estava afundando.
Estava nascendo uma nova era; e, desde aquela noite, nunca mais foram vistos passageiros de terceira classe tão filosóficos.

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